Escolhas
Esses dias, ouvi sábias palavras, que sintonizaram com muitos momentos passados e ainda presente, precisei parar e fazer tudo virar esse texto.
A vida é feita de escolhas, toda escolha indica que houve dúvidas, toda escolha implica em perder algo, e sempre é preciso escolher. A vida é dinâmica, assim, não há ser humano capaz de viver estagnado, as escolhas ajudam-nos a movimentar. Claro, não podemos escolher tudo aquilo que queremos, muito menos suas consequências, e mais claro ainda é que o famoso livre-arbítrio existe até esbarrar em sua primeira vírgula. Eu mesma que tanto pensei e escolhi certos caminhos, e mal sabia, que o caminho seria tão longo, eu mesma que um belo dia escolhi viver eternamente e soube que havia leis maiores, como as leis da vida, e que terei que passar pela morte, como todos seres vivos.
Podemos considerar que escolher é fácil, temos dois lados ou mais, e é só escolher. Podemos nos colocar no lugar do outro e achar que sabemos tudo sobre esse ser humano: conhecemos seus pais, objetivos, pontos fracos e fortes, sentimentos, medos. Podemos considerar que nós estamos acima de tudo isso, que dotados de inteligência racional e emocional, sabemos o que é melhor para o outro, e é nesse ponto de partida, que eu não tenho capacidade de ponderar se esse "melhor" sentenciado por muitos realmente é o melhor para o outro.
Quantas vezes atravessamos a rua numa corridinha antes que o carro nos atropele? Esperando que tenhamos sorte de calcular a velocidade e aceleração do carro e da nossa corrida, e que nesse caminho não haja pedras, obstáculos, ou falha do caminhar, que nos leve à queda e assim ao atropelamento.
Quantas vezes, conscientemente, deixamos de dormir, passamos frio, fome, ingerimos alimentos tóxicos? Acreditando que somos máquinas tão inteligentes, que somos capazes de identificar que estamos com uma doença crônica, e claro, estamos tomando essas atitudes, conscientes de que somos tão saudáveis.
E entre todas as vezes, que eu poderia listar e aumentar o texto, quantas vezes nós sabemos e sentimos o coração do outro?
Não é legal julgar escolhas de pessoas que estão passando pelo momento mais delicado da sua vida, que é estar entre a finíssima linha entre o tempo limitado da vida e a morte. Ainda que já tenha passado por situações semelhantes, não julgue, não condene. Somente aquela pessoa sabe sobre o peso da vida, os calos da caminhada, o quanto foi deixado de ser sentida e tocada. E como, muitas vezes, mudar o Agora, esperar ser o caso fora da curva, o milagre, a cura espontânea, é como casar com a expectativa, gestar ansiedade e parir um susto.
Durante muitas horas da minha primeira internação, quando eu apenas pensava: seja o que está acontecendo com meu olho direito, espero que seja apenas nesse olho, e que isso seja apenas sorte ou azar, nada que espalhe, nada que seja permanente. Porém, essa esperança era duramente sufocada por hipóteses diagnósticas, pesquisas que eu fazia do hospital e é claro: ver semelhantes em condições iguais ou piores, quem pode julgar o estado do coração do outro? E quando tudo ficou difícil, e é preciso tempo para digerir a informação, enquanto é preciso pressa para tomar uma atitude, inúmeras idéias, que são absolutame sabidas que não fariam bem à saúde, passaram pela minha mente, e muitas eu apenas não pratiquei pela limitação da doença, como ir até um barzinho me embriagar para ver se pelo menos, eu esquecia um pouco de tanto tudo que estava acontecendo, ou simplesmente ir até o ponto mais alto possível da cidade e ficar lá sozinha, observando a paisagem.
Eu escolhi, eu não sei se foi a melhor escolha, eu estou contente com o escolhido, assim como muitas pessoas com uma doença crônica também escolhem, sabiamente ou não, conscientemente ou não, emocionalmente ou não, e essas escolhas, não há quem possa julgar e sentenciar. Desejo que todas escolhas sejam caminhos orientados pelo coração, e desejo que as escolhas sejam respeitadas.
Paz, luz e saúde a todos!
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