Paralisar mobiliza?

Pode não ser uma máxima, uma lei, principalmente quando observo os movimentos harmônicos que existem no Universo, a translação, rotação, estações do ano, ritmos naturais, não é preciso a Terra parar somente para conseguir se equilibrar e voltar ao seu estado natural de rotação, nem aumentar o tempo em uma estação, como por exemplo o outono, estação de transição entre verão e inverno, para alcançar um inverno "mais equilibrado".

Ciclista Tropical de Rubens Gerchman
(memoriasdaditadura.org.br)

Quando descobri a doença, dentro daquela maratona de passar em especialistas e realizar exames infinitos, a recomendação era: continue sua vida! Não pare de estudar, trabalhar e fazer o que você está fazendo.
Fazia um tempo que estava mudando sem parar, de uma área para outra área profissional, buscando um aqui me encontrei, e havia alguns anos que sentia necessidade de rupturas, romper com aspectos que não vinham ao meu encontro, imposições sociais, era um muito, um tanto e um sempre.. E então, você descobre que talvez perdeu a visão do olho direito, já que precisa deixar esse olho tampado para ver com o olho esquerdo, porque seu mundo passou do tridimensional para um bi-tridimensional e você vê duplo! E descobre que esse é apenas um sintoma, e que você já teve outros sintomas e que há uma história por trás daquelas lesões que mostram o laudo de seu exame de ressonância magnética, ouve a palavra auto-imune e se desespera, porque faz sentido e sabe que vai ser uma guerra lutar contra partes de sua vida que vai contra si próprio, e agora? Como que vou me perdoar? E diante de tudo isso: continue sua vida!
Eu não queria continuar. Um, porque já fazia tempo que achava que passou da minha hora de ir; dois, porque me sentia o caos, três, se eu continuasse com a vida que eu tinha, eu iria passar por diversos surtos neurológicos, mais do que os que eu já havia tendo, iria sofrer muito até morrer. Então, eu não continuei, me conformei com a paralisia, quando eu saia da cama de forma rápida, esquecendo que meu lado direito não me respondia, eu caia, não conseguia olhar para o lado direito, a dor dos olhos era torturante, e eu precisava de ajuda para me alimentar, escovar os dentes.. Meu corpo disse: pare Ana. E os médicos: continue sua vida! 
Parei. Paralisei. 
E só assim, consegui mobilizar emoções profundas. É um caminho parecido com as greves, paralisações sociais, diversas vezes fiz analogias com a minha vida pessoal, comparando com o conteúdo do livro de história, já dizia Terêncio: sou um homem, nada do que é humano me é estranho. E faz sentido, se não pararmos, nada transforma, porque diferente dos movimentos harmônicos da natureza, estamos em um extenuante ir e vir, se machucar e cansar sem percebermos isso, cumprindo papéis, receitas, conveniências e muito mais. Se eu não tivesse parado a vida, eu teria que estudar usando somente meu olho esquerdo com as cores reduzidas, movimentando dentro das sequelas que a doença havia deixado, e feliz: continuei a vida. Parecia estranho escolher parar diante de um problema gigante, ainda mais porque eu sempre tive um ritmo acelerado, e busquei soluções. Eu não conseguia ver o parar como curar, solucionar, me encontrar.. Eu mal conseguia meditar, porque me sentia improdutiva, uma máquina. E lá estava a vida não me dando escolhas: ou era viver em paralisias ou era paralisar e apostar no que viria. Felizmente, a vida veio me encontrando e agora consigo me mover dentro das minhas possibilidades, em gratidão e em amor, sempre em busca da luz!
Parei e mobilizei!

Para conhecer um pouco mais sobre o que me ajudou a mobilizar diante da doença, esclerose múltipla, acesse e conheça a campanha: www.catarse.me/AnaEmCuraComAyurveda

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Comentários esquecidos

Gostaria de agradecer mais uma vez

Sobre: Ganesha e caminhos